22.4.08

Complexo de Gentalha



Seu Madruga: o mexicano que é a nossa cara.
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Já tô colonizado. Minha mente é terra alheia, penso sobre o que se pensa. Sobre o que todo mundo tá pensando no momento: Isabella. Como morreu e por que foi morta. Quem matou e outros detalhes - sobretudo os detalhes. "Eles já saíram de casa?" "Os depoimentos, como foram?" É obssessão nacional, a gente liga a TV e é isso, a gente pega o radinho e só dá ela, a gente desliga tudo e o cérebro oferece reprises e mais reprises...

O caso pegou com a força do refrão de música ruim: piri-piriguete, segura-o-tchã, hoje-é-festa-lá-no-meu-apê, eu-vou-fazer-um-leilão...

Logo logo, alguém vai dizer que foi ao túmulo dela, rezou e uma cura impossível foi feita. A notícia chegará ao Vaticano e sua central de produção de santos. Se tudo der certo, em menos de dois anos teremos mais um feriado.

A menina jamais poderia prever que sua desgraça, até então particular, deixaria as redações dos jornais felicíssimas, a população que já é meio retardada, em surto agudo de histeria, e serviria para dar novo e mórbido brilho às conversas cotidianas. Desde a morte do Airton Senna não se via um climão desses... Valei-me, Nossa Senhora de Lourdes!

Não é que a tragédia da menina não seja comovente... É só que possui atenção desproporcional às centenas de tragédias parecidas que não se comenta, porque as isabellas, nesses outros casos, se chamam Jucemara da Silva, Djenifer de Souza, Raimunda Pereira...

Na queda, Isabella morreu de politarumatismo...
E nós de falta de alguma coisa que a ciência ainda não conseguiu definir. Talvez de falta de equilíbrio, talvez de excesso passional, talvez de síndrome de seu madruga, de teletubisse aguda, ou de verminose neuronal, sei lá.

Só sei que, depois desse episódio, passei a temer os meus vizinhos. Sabe lá se eles não tão doidos para dizer ao delegado que há gritos por aqui...

21.4.08

Jornalismo à moda de Veja


CASO ISABELLA

POLÍCIA DESCOBRE QUEM ERA A TERCEIRA PESSOA NA CENA DO CRIME:

LULA

Segundo uma fonte não identificada revelou, o Presidente havia ido à casa dos Nardoni, minutos antes do crime, para distribuir dossiês contra a suposta canonização de José Serra. Um delegado da Polícia Federal, que não quis se idenficar, afirmou que escutas telefônicas ligam o Presidente aos fatos do edifício London. "É mais sério do que imaginávamos", disse a autoridade que, em trinta anos de polícia, ainda se espantou com o conteúdo interceptado: "Nunca vi algo parecido. É estarrecedor! Estou chocado."

Não são apenas policiais que estão estarrecidos. Um juiz de São Paulo, que preferiu ficar no anonimato, diz que há elementos suficientes para levar o Presidente à júri popular. "O Presidente não está acima da lei, ainda mais num crime bárbaro como esse", desabafou o ilustre magistrado, que se diz traído pelo Presidente: "A gente votou nele e ele mata a menina! Isso, posso afirmar enquanto especialista, não é atribuição do cargo, é incompatível com a legalidade!"
F.H.C., perito da Polícia Técnica que, para não atrapalhar o curso das investigações, pediu que não fosse identificado, afirmou que as marcas na menina são compatíveis com uma mão com dedura incompleta, situação que reforça a tese da participação do Presidente no crime. "Pessoalmente, não vejo possibilidade de defesa ao Presidente", concluiu o perito, que tem PhD em Havard.

Ainda é cedo para emitir um julgamento sobre a culpa do Chefe da Nação, mas para o bem da verdade, Lula deveria renunciar, ser preso, torturado, indenizar para só então se explicar. Somente assim, se restabeleceria a verdade republicana


Cleber Bambam Mainardi

Colaboraram na reportagem: Didi e Dedé, além de outros dois ex-integrantes dos Trapalhões, que pediram para não ser identificados.

20.4.08

10 motivos para sustentar que o ecstasy aperfeiçoará a política nacional sobre as drogas

1º. O mercado de ecstasy concentra os consumidores mais ricos e a droga vêm do exterior, trazida por moços acima de qualquer suspeita; portanto, esses consumidores não injetam dinheiro nos traficantes armados nacionais, que perdem espaço e dinheiro para comprar armas (menos balas perdidas!!!);

2º. As festas raves, quando associadas ao consumo de ecstasy, mostram uma realidade válida para as drogas em geral: estas só geram crimes (para além dos elementares porte e tráfico) quando são efetivamente proibidas. É dessa proibição que surge a necessidade de se armar, corromper e matar para garantir que a droga chegue – e permaneça - nos mercados de repasse;



3º. É falta de conhecimento pensar que o sujeito drogado se torna – só por isso - mais perigoso do que os demais cidadãos. Quando você bebe, nem por isso sai por aí querendo matar os outros. Quando a rapaziada faz uso da “bala”, dançam freneticamente, tornam-se serial-kissers, pulam feitos sapos, mas não matam os coleginhas de festa;



4º. Os garotos das raves (“menores”, se fossem funkeiros), devido ao consumo exagerado de ecstasy podem mesmo vir a óbito (um problema individual de escolha e, no máximo, social, de saúde pública), mas não barbarizam a vida alheia, - o que, aí sim, seria um problema de segurança pública;



5º. Os consumidores de ecstasy são riquinhos e muitos deverão ser enquadrados por tráfico, a sociedade gostará de ver, ainda que por uma noite, filhinhos-de-papai na cadeia (“perseguição aos playboys!”);



6º. Uma noite só? Você que leu a lei de drogas deve estar discordando. Certo, no rigor da lei, você tem razão, tráfico é equiparado a crime hediondo, mas tal classificação, meu ingênuo leitor, surgiu pela pressuposição – dogmática, no sentido persecutório do termo - de que só quem cometeria ações de tráfico seria o neguinho do morro (você sabe o que a nova lei trouxe em benefício do menininho-consumidor-bem-nascido? Eu conto: no lugar de uma pena, uma bronca do titio-juiz, uma excrescência chamada “audiência de admoestação!”). Mas agora que vai ser “fichado” como traficante, o bom-menino-do-bom-colégio-do-pai-bem-empregado-e-do-advogado-rico, todos (principalmente os mais moralistas e dogmáticos) vão chegar a brilhante conclusão de que a lei de drogas é ruim, fascista mesmo;



7º. Então acontecerá o inesperado: juristas dogmatas moralistas, com o filhinho atrás das grades, tirando injustamente a vaga reservada aos mostrengos de favela, vão ler os odiados, os irresponsáveis, os quase-meliantes autores críticos e, com base neles, farão diferenciações impensáveis pela prática jurisprudencial do dia anterior. Salientarão que a lei de drogas pune com mais seriedade um traficante do que quem rouba, do quem estupra, do quem mata – não se engane com a pena mínima, é muito mais fácil você ser absolvido nesses últimos três crimes do que no de tráfico. Dirão que cadeia não conserta ninguém, - menos ainda seus filhinhos... Anote aí: a lei de drogas será dita inconstitucional, e até cestas básicas serão tidas como suficientes para penalizar crimes de tráfico – de ecstasy no início, depois - para não ficar feio - para as demais drogas;



8º. Como o esctasy está escondido na cobertura de luxuosos edifícios, a classe jurídica e política (que se avizinham em tais lugares), assustados com a devassa policial, mudarão a lei e a jurisprudência. Salientarão como óbvia e urgente aquela velha denúncia dos autores-críticos-quase-meliantes, de que não se pode ir metendo os pés nas portas alheias sob a desculpa de que, sendo o tráfico um crime permanente, o flagrante estará ali, presumidamente no aguardo, dando à autoridade a desculpa para arrombar qualquer porta, sem mandado ou coisa que o valha. O Supremo vai mudar a jurisprudência nesse sentido. Pode anotar!


9º. Abandonados pelos financistas da droga (aqueles figurões que não botam os pés no morro, mas botam os lucros das mortes do tráfico na Suíça), os traficantezinhos de favela serão exterminados de vez, pois terão se tornado apenas fonte de incomodação e não mais parceiros de crime;


10. A polícia fará plantão nas festas raves, cuidando para que o menininho não convulsione, nem torça o pezinho, com isso teremos um lado mau: sua casa será assaltada, já que os policiais estarão todos na rave, cuidando das crianças-zona-sul, para que elas não botem cacaca na boca. Então no lugar da caveira, o BOPE terá como símbolo a mamadeira e o capitão Nascimento fará, finalmente, jus ao seu nome.

19.4.08

O falso em nós...

É de manhã; mas não há manhã que possa restaurar
O que pusemos a perder.
Não vejo pecado algum:
O mal está misturado. Na trágica vida, Deus sabe,
Não há necessidade de vilões! A paixão tece a trama:
Somos traídos pelo que há de falso dentro de nós mesmos.
George Meredith (Modern Love). Imagem: Di Cavalcanti

12.4.08

BIG BROTHER ISABELLA




"Pau nos cornos dos acusados!"
Frase da sabedoria popular



Eu não sei quem matou Isabella. Posso supor, posso deduzir, posso intuir, inferir, deixar-me levar pelo meu espírito justiceiro e vingativo, mas a verdade é uma só: eu não sei quem matou Isabella.

A polícia também não sabe: ela pode intuir, deduzir, torcer, enaltecer, denegrir, falar em porcentagens (“Já temos 70% de certeza de quem matou Isabella”! - Isso é equivalente a dizer que a menina estava 60% morta quando chegou ao solo. Ridíiiiculo!), mas que, até agora, não sabe, não sabe. Se soubesse teria municiado o promotor com argumentos capazes de sustentar a prisão dos acusados.

(É só um tal de ouvi dizer, ouvi falar, uma testemunha tardia disse que, a perícia não concluiu até o momento, um vizinho do outro prédio disse que viu, um telefonema foi dado não se sabe por que, um garçom apareceu, um pedreiro desmentiu, uma pessoa de “nível” ouviu.... Credo! A gente se acostuma vendo CSI e depois cai nessa realidade bem brasileira do diz-que-me-disse, do escutei-há-10-dias-mas-só-agora-notei-que-era-a-voz-da-vítima)... Dá até vergonha.

O povo não sabe quem matou Isabella (ele mal sabe quem descobriu o Brasil). O povo pode acusar, gritar, deixar vazar seus instintos mesquinhos, histéricos e justiceiros, mas ele não sabe de nada. Nunca sabe. Ele, em seu conjunto, é um ente estúpido, barraqueiro e Ridíiiiculo! O que ele quer é gritaria, cerveja, carnaval, sangue e gente pelada; entrevista com jogador de futebol, Faustão e gente estraçalhada; Calypso, notícias de morte e dança dos famosos.

Quem, afinal, são essas pessoinhas que, sem ter qualquer relação com os envolvidos no caso, deixam as atribuições do cotidiano para gritar a pessoas que, até que se prove o contrário, são inocentes: “ASSASSINOS, ASSASSINOS!”?

Cuidado com essa gente: elas atiram primeiro, depois verificam o que ocorreu. É por causa desse tipo de precipitação estúpida que Jesus foi crucificado, que os donos da escola de base tiveram sua casa e reputação destruídas (sob a acusação de que abusavam de crianças) e que tantas pessoas foram linchadas antes de sair a sentença que as absolveu.

Não defendo os Nardoni. Sei que eles têm muito a explicar. Acho, como todo mundo, que eles acabarão condenados. Mas eles podem, com todo direito constitucional e processual a seu favor, me dizerem: “Seu ACHO é problema seu”, “Você não nos conhece, não sabe como lidávamos com minha filha e enteada dela. Nunca esteve lá. Então, ou você arruma provas, ou sua opinião, juridicamente falando, vale tanto quanto nada.”.

Sinto, mas ele têm razão.

O que se está discutindo não é mais o destino do casal. E sim se os acusados possuem o direito de que seu caso não vire um enorme Big Brother:

- Ligue 00300xxx para eliminar Alexandre;
- 00300YY para eliminar a Sra. Jatobá;
- Agora se você acha que foi a mãe de Isabella, porque ela não chorou “como devido”, ligue para 0300ZZZ”;
- Já se você acha que foi o porteiro, uma vez que o casal não possuia mordomo, ligue 00300MMM.


Logo, logo sairá o nome dos eliminados. Se a resposta não combinar com o que achamos, amaldiçoaremos a Justiça por dar mais importância a detalhes como “ausência de provas” do que a nossa opinião; mas se combinar, justiça foi feita!

Não sei quem vencerá esse BBB, mas sei que muitos “um milhão” já ganharam cada emissora de TV na exploração do sadismo público. O povo também está tendo seu pão e circo: nada como jantar ao sabor da reconstituição do caso “Isabella”.

A queda da pobre menina serviu ao menos para tomarmos ciência de uma coisa: somos um povo incapaz de esperar um julgamento isento. Somos mais ligeiros do que qualquer perito, mais contundentes do que qualquer promotor, botamos delegados no chinelo e lamentamos a falta de senso dos nossos juízes, assim como a malícia dos advogados. Tirando nós, os demais são uma lástima!
Melhores que os outros,

Conosco Jesus jamais teria sido crucificado: já o teríamos matado no caminho!

10.4.08

Eu falo na cara!








Sem máscaras, somos bem mesquinhos, simplesinhos, despreziveisinhos - quase nojentos.
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[Por isso quem quer ter ídolos, deve deles manter distância
E quem quer eternizar um amor, jamais deve concretizá-lo...]


As coisas sem disfarces raramente valem a pena.

Mas

Com algumas pinturas, leituras, disfarces, gestos calculados, detalhes não contados e gentileza somos até bem apresentáveis...
[o melhor de nós é o que não somos, habitualmente...]

Devidamente preparados para o encontro, dá para nos admirar, até nos amar
[sobretudo pelo que o outro não viu, mas que supõe ser o melhor em nós..."]

[O amor vive de segredos que supomos guardados no outro]


Mas

Alguns simplórios pensam que, para serem autênticos, devem

Falar verdades aviltantes na cara alheia

Não levar desaforo para casa, despejando toda a sua animalidade "natural" em quem cruza o seu caminho

Não usar pinturas, tinturas, modas e polidez

Deus me livre de pessoas 100% autênticas!

Não quero para amigos, para amores, para colegas os que vivem descobrindo meus defeitos, minhas infâmias, meus complexos para apontar o dedo,

Pois eles não podem apontar em mim nada que eu já não houvesse descoberto

E que contava com a civilidade dos amores e dos amigos para continuar ignorando

8.4.08

Encontro de juristas

PROVAVÁVEL ROTEIRO

1ª. Parte
ABERTURA
Aproximadamente uma hora de atraso para a chegada do palestrante.
Quase uma hora para compor a mesa de honra, formada por aproximadamente 1/3 dos presentes. (Não se encante: você ficará aí embaixo mesmo...)

2ª. Parte
HOMENAGENS (Aproximadamente metade do tempo restante. É nessas horas que você ficará sabendo que o Ministro tal, o juiz qual, o promotor X e o procurador Y só não foram canonizados, receberam o Nobel e venceram o Big Brother por pura incompetência do Papa, da Academia e do Pedro Bial. (Não, meu filho, você não será homenageado, mas não se importe: os advogados e os professores também não).

3ª. Parte
PALESTRA PROPRIAMENTE DITA
No início era verborragia e ela logo se fará sono.
Depois serão as mesóclises, os arcaísmos, os doirados rococós e os truncados barrocos (que você não vai entender, mas não se preocupe, ao contrário, dê graças a Deus: essa é uma daquelas ocasiões em que, de fato, é melhor ser surdo).
Finalmente, serão ditas umas coisinhas que todo mundo que estuda Direito já sabe e que todo mundo que não estuda não precisa saber.

4ª. Parte
OS DEBATES IMPROPRIAMENTE DITOS
A essa altura, os colegas da mesa já sabem que o palestrante não disse coisa com coisa, mas, para manter a tradição, o moçoilo engravatado da direita se derreterá em elogios aquela que foi “quiçá, a melhor explanação sobre o tema já produzida em solo auriverde...”.
Por sua vez, o debatedor da esquerda, que durante toda a palestra ficou fazendo cara de contrariedade, agora, que chegou a hora do “vamo-ver”ao invés de questioná-lo, irá acrescentar alguns exemplos para confirmar a “fenomenal verossimilhança” do que o colega acabou de explanar. ( Se for da tribo do gelzinho na cabeça vai até dizer, sem receios, “fiquei até arrepiado.” – ui, ui, ui).

5ª. Parte
AS PERGUNTAS DOS ESTUDANTES
Serão selecionadas três, e, pelo menos uma delas, tentará fazer o que o debatedor não fez: polemizar.

6ª. Parte
A RESPOSTA DO PALESTRANTE
Após escutar a pergunta, com a maior cara de tio bonzinho diante de sobrinho revoltado, dirá o falador:
“Entendo sua discordância. Ela é própria da juventude. Eu também já militei no movimento estudantil...” (e lá vai mais meia hora de biografia do palestrante, quando ele era menino em Barbacena...).

Finalmente, sem responder a provocação (imagina!), o palestrante encerra a “discussão” dizendo que o Brasil precisa de mais gente como aquele estudante.... e pede aplausos (e, é claro, recebe).

7ª. Parte
O ADIANTADO DA HORA
“Haveria muito mais coisa a explorar em tão fértil palestra. Mas, devido ao adiantado da hora, fica para uma próxima oportunidade. Boa-noite.”

8 a. Parte
PREJUÍZO
Isso mesmo: você morreu com R$ 25!

6.4.08

O dossiê e a pobre Isabella

Caso Isabela: se os acusados fossem filiados ao PSDB, não se discutiria a queda da menina, mas o "dossiê do delegado".
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Esse negócio de dossiê para lá, dossiê para cá, está ficando cômico. Agora é só alguém levantar algo imoral ou ilegal contra qualquer membro do PSDB e eles nem se dão mais ao trabalho de se defenderem da acusação: culpam os acusadores de terem montado um "dossiê", coisa que no Brasil da imprensa teletubbies é sempre mais sério do que ter cometido qualquer crime...

É mais ou menos assim:

Suponhamos, a título de exemplificação, que s pais de Isabella (aquela pobre menina que morreu, provavelmente, segundo os indícios, jogada por eles/ou por alguém, do 6o. andar de um edifício em São Paulo), fossem filiados ao PSDB, a provável manchete, numa revista como VEJA, seria assim:

"Delegado do caso Isabella, com ligações no Palácio do Planalto, montou um dossiê contra os pais da menina."

Diante disso o que aconteceria? Ninguém mais investigaria o crime do prédio, apenas o "crime do dossiê". No final, o delegado, pela pressão pública (leia-se "pressão publicada") perderia o cargo, a morte da menina perderia o interesse e o Palácio do Planalto seria responsabilizado.

Não sou filiado ao PT, e já votei em candidatos do PSDB, mas não sou retardado a ponto de achar que é mais importante o suposto crime de montar uma denúncia do que jogar do sexto andar uma criança, ou que é mais importante montar um dossiê que mostre gastos do governo anterior do que a justificação efetiva de tais gastos...

Do ponto de vista prático, os dossiês possuem até sua utilidade. É a tal da doutrina, de origem liberal, e aceita pela Suprema Corte Americana, que sustenta que "vícios privados podem ser benefícios públicos", em outras palavras: que o sujeito que entra no supermercado para achar uma latinha de sardinha com prazo de validade vencido, para com isso pedir uma indenização ao supermercado, pode até estar fazendo isso por vício privado (ganância), mas acabará trazendo benefícios públicos (evitará, por exemplo, que pessoas efetivamente inocentes comprem a latinha vencida e passem mal).


No Brasil, vide casos Celso Pita (denunciado pela ex-esposa), Collor (denunciado pelo irmão), Lalau (denunciado pelo ex-genro), é muito comum que esses vícios privados (inveja, despeito) se convertam em benefícios públicos: cassassão, prisão etc.


Em resumo, vamos nos ocupar dos dossiês sim, mas não a ponto de esquecer da menina do prédio.