13.5.08

O padre voador


"Não, meu filho,
não é verdade: padres não voam..."


Que esse padre teve uma idéia de jerico, isso parece óbvio, sobretudo se entendermos por tal idéia aquela que a gente já teve - lá pelos 10 anos, é verdade - mas que, a tempo, se rendeu a força dos fatos: se fosse possível voar fácil assim (com balõezinhos!), nossos primos mais velhos já teriam tentado. Se não tentaram, é porque a idéia era de jerico mesmo. Assim, nos resignamos a soltar pipa. Primos tem lá sua utilidade, pelo menos no que tange a nos livrar do ridículo...

O padre não tinha mulher; talvez não tivesse primos que lhe ensinassem a dureza das coisas terrenas... aí, sem âncora, pra decolar da casinha é só um pulinho.

Bem verdade é que não se pode exigir lá muita razoabilidade de moços solteiros que vêem pecado por tudo quanto é lado.

Padres não são mesmo sujeitos muito versados na realidade das coisas, - ou não seriam padres. Eles vêem cada coisa: santo de barro que chora, virgens que têm filhos, filhos que são pais de si mesmos, mortos que voltam, vida sem sexo, sexo sem camisinha... É, não dá para exigir pés no chão desses rapazes...

Há um quê de noviça rebelde em cada um desses moços de saia e crucifixo.

Mas não foi falta de aviso.

Em Ofício datado de alguns milênios, o Supremo Patrão dele, advertiu: “És pó!...” Não meu filho, ele não disse poeira, e muito menos “poeira cósmica”...

Jesus passou por situação semelhante a do aeropadre. Na terceira tentação do demônio a Cristo, quase tivemos um vôo: “Por que não te jogas daqui de cima?” – desafiou o coisa-ruim, com sua habitual malícia -, “se És divino, Deus te sustentará.” Mas Jesus, que não era padre nem nada, saiu-se com sua tradicional retórica: “Não tentarás o Senhor teu Deus”. Se jogou? Não. Foi ao 1,99 comprar balões de aniversário? Não! Lembrou-se daqueles versinhos dos antigos: “boa romaria faz quem na sua casa fica em paz” e encerrou o papo com o tentador das trevas. E se tal resposta não lhe permitiu uma vida longa, pelo menos lhe permitiu morrer bem pregado ao chão... (e longe do mar!)

Assim, da baixeza de minha ignorância, eu me pergunto: Se Jesus, que era Deus, achou que esse negócio de voar era uma tentação arriscada (e olha que Ele já tinha planado no mar), como é que um seu subordinado qualquer, lotado numa filial do interior do Paraná, achou que podia?!

Soberba!

Um pecado para mil perdões – um para cada balão.
Mas esteja certo de uma coisa, Padre: eu pequei. E como pequei... mas, agora, por causa de sua aventura, não tenho mais pra quem contar. Jamais voltarei a me sentir leve, puro, rarefeito, nas nuvens: PADRE EGOÍSTA!

2 comentários:

Mila disse...

Ahhhh..todo mundo tá com inveja dele, fala sério.
Eu, vc e os primos.
A diferença entre o padre e nós...é a dúvida sobre nosso lugar cativo à direita do todo poderoso.
Ele voou porque tava confiante, não no gps, mas na sua vaga lá no limbo no caso de sair algo errado.
Ele deve tá melhor que a gente agora.

Abraços pra ti.

Paulo César Nascimento disse...

Ele te lembrou a noviça rebelde? A mim ele lembrou a noviça voadora... Chato é o desperdício de dinheiro público nas buscas. Entendo a dor da família, mas antes de partir para esse tipo de empreitada o sujeito deveria ser obrigado a pagar um seguro que cobrisse esse tipo de gasto. É questão de propor ao legislativo a obrigatoriedade do "seguro jerico"... Abs