26.4.07

É difícil ser polícia...


Esse seqüestro em Campinas, São Paulo, que já dura mais de 45 horas mostra a cautela da Polícia, em particular do GATE (Grupo de Ações Táticas Especiais) da Polícia Militar, que insiste, à todo custo numa saída negociada, e o despreparo de parte da mídia que fica, repetidamente, sondando sobre se não está se deixando o evento se estender demais. Para as televisões é possível que uma invasão, com gazes, atiradores de elite e metralhadoras, seria o mais adequado. Brito Jr, por exemplo, apresentador do Hoje em dia, ficou exaltando o trabalho do GER (Grupo Especial de Resgate), da Polícia Civil paulista, que chegou no teatro de operações, posicionou atiradores em cima da casa e, com isso, provocou o primeiro disparo do sequestrador. Ele pergunta: "Será que o sequestrador não dormiu não, dando tempo para a polícia fazer algo?".

A polícia está fazendo o certo
Quando se está lidando com um tomador de reféns que já cedeu - ele libertou uma das crianças - quer negociar - ele já fez vários pedidos - e conversa com as pessoas sequestradas sem maltratá-las (ele explicou aos reféns por que queria ser levado ao fórum e não à delegacia), a saída, a melhor saída, é sempre esperar e negociar. O contato próximo e longo entre o sequestrador e os sequestrados pode, inclusive, levar à chamada "Síndrome de Estocolmo", que, para a maior parte dos especialistas, é positiva na situação crítica, já que leva a uma atitude de proteção recíproca entre as vítimas e o criminoso.

Nos EUA, onde se respeita muito cada vida de refém, a doutrina policial é a da negociação longa, só interrompida caso haja risco insuportável à vida dos reféns (por exemplo, se o sequestrador começa a atirar neles). O Brasil, em teoria, segue essa corrente - a única compatível com nosso sistema de direitos e garantias constitucionais. A oposta, é a doutrina russa, da supremacia do interesse público, que, na prática, diz "nós não negociamos com bandidos". O resultado dessa doutrina ficou magistralmente demonstrada no Teatro de Moscou, em 2002, quando a polícia secreta russa (FSB), numa operação fulminante, invadiu o teatro, ocupado há três dias por guerrilheiros chechenos, no qual faziam cerca de 700 reféns. Utilizando gazes venenosos - a princípio para botar todos para dormir - a operação resultou na morte se 118 reféns. E na morte dos sequestradores, claro.

Mas essa idéia de não negociar com bandidos não levou à nada. Dois anos depois, os agentes do terror tomam a escola russa de Beslan, onde 250 pessoas morreram após a invasão da polícia.
Portanto, demore o que demorar, a melhor coisa a fazer é negociar.
Mais vale uma negociação morna, ainda que irritante aos telespectadores, do que um fantástico espetáculo de sangue alheio.

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