6.4.08

O dossiê e a pobre Isabella

Caso Isabela: se os acusados fossem filiados ao PSDB, não se discutiria a queda da menina, mas o "dossiê do delegado".
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Esse negócio de dossiê para lá, dossiê para cá, está ficando cômico. Agora é só alguém levantar algo imoral ou ilegal contra qualquer membro do PSDB e eles nem se dão mais ao trabalho de se defenderem da acusação: culpam os acusadores de terem montado um "dossiê", coisa que no Brasil da imprensa teletubbies é sempre mais sério do que ter cometido qualquer crime...

É mais ou menos assim:

Suponhamos, a título de exemplificação, que s pais de Isabella (aquela pobre menina que morreu, provavelmente, segundo os indícios, jogada por eles/ou por alguém, do 6o. andar de um edifício em São Paulo), fossem filiados ao PSDB, a provável manchete, numa revista como VEJA, seria assim:

"Delegado do caso Isabella, com ligações no Palácio do Planalto, montou um dossiê contra os pais da menina."

Diante disso o que aconteceria? Ninguém mais investigaria o crime do prédio, apenas o "crime do dossiê". No final, o delegado, pela pressão pública (leia-se "pressão publicada") perderia o cargo, a morte da menina perderia o interesse e o Palácio do Planalto seria responsabilizado.

Não sou filiado ao PT, e já votei em candidatos do PSDB, mas não sou retardado a ponto de achar que é mais importante o suposto crime de montar uma denúncia do que jogar do sexto andar uma criança, ou que é mais importante montar um dossiê que mostre gastos do governo anterior do que a justificação efetiva de tais gastos...

Do ponto de vista prático, os dossiês possuem até sua utilidade. É a tal da doutrina, de origem liberal, e aceita pela Suprema Corte Americana, que sustenta que "vícios privados podem ser benefícios públicos", em outras palavras: que o sujeito que entra no supermercado para achar uma latinha de sardinha com prazo de validade vencido, para com isso pedir uma indenização ao supermercado, pode até estar fazendo isso por vício privado (ganância), mas acabará trazendo benefícios públicos (evitará, por exemplo, que pessoas efetivamente inocentes comprem a latinha vencida e passem mal).


No Brasil, vide casos Celso Pita (denunciado pela ex-esposa), Collor (denunciado pelo irmão), Lalau (denunciado pelo ex-genro), é muito comum que esses vícios privados (inveja, despeito) se convertam em benefícios públicos: cassassão, prisão etc.


Em resumo, vamos nos ocupar dos dossiês sim, mas não a ponto de esquecer da menina do prédio.

Um comentário:

Mila disse...

Se concluirmos que eles têm a certeza que desviarão nossas atenções dos gastos excessivos para o tal dossiê podemos afirmar que eles acham que somos imbecis.

Se isso continuar sendo discussão por mais uma semana, levando em conta as horas perdidas para chegarmos a obviedades, eles terão certeza que somos imbecis.

Muito bom professor!Parabéns, de novo